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domingo, 5 de março de 2017

Colapsos ambiental e financeiro ameaçam o mundo

crise ambiental

ão se trata de exagero ou pessimismo afirmar que existe apreensão nos círculos das ciências exatas e da natureza, um pouco menos no campo das sociais, quanto a colapsos que nossa sociedade planetária pode experimentar em período não distante. O assunto figura nas preocupações do Papa Francisco, cuja encíclica Laudato Si’, de maio de 2015, o aborda. Lê-se nela, por exemplo, que “Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”. Isso, porque “parece notar-se sintomas dum ponto de ruptura, por causa da alta velocidade das mudanças e da degradação, que se manifestam tanto em catástrofes naturais regionais como em crises sociais ou mesmo financeiras …
Há regiões que já se encontram particularmente em risco e, prescindindo de qualquer previsão catastrófica, o certo é que o atual sistema mundial é insustentável a partir de vários pontos de vista, porque deixamos de pensar nas finalidades da ação humana”. Vale sublinhar que o documento papal não saiu da cabeça de Sua Santidade sem antes buscar sólida base científica. De fato, em maio de 2014, as Academias Pontifícias de Ciências (APC) e de Ciências Sociais (APCS) promoveram um seminário conjunto em que os temas da encíclica foram examinados e oferecidos ao Papa para sua consideração. Do evento participaram renomados cientistas, alguns deles laureados com o Prêmio Nobel. Não por acaso, a encíclica, na ótica da ciência, é considerada um documento irretocável.
Certamente, uma questão grave é a da mudança climática, objeto do campo de inquietações de Francisco. Considerando o clima “um bem comum”, a encíclica sublinha que mudanças nele “são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade”. No Nordeste do Brasil, é visível que algo preocupante está acontecendo. O desaparecimento da água potável, a escassez de chuvas, a sensação de desertificação que se experimenta com a vegetação esturricada à nossa volta não são episódios erráticos. Quem abre a torneira em casa, como um habitante do Recife, por exemplo, e vê a água saindo, não imagina o drama que a população de áreas sertanejas vivencia. Meu cunhado Valderedo, criador de gado leiteiro em Garanhuns, não tem mais como impedir que suas vacas morram.
Teme-se que, do ponto de vista do aquecimento global e do degelo do Ártico, da Groenlândia e, especialmente da Antártica, o ponto de não retorno do problema já tenha sido atingido. Receios de catástrofes iminentes se manifestam. Artigo de Douglas Fox, na National Geographic, de 12/4/2016, avisa que os cientistas veem com horror o colapso do gelo na Antártida. Nicola Jones, na revista Yale Environment, de 26/1/2017, por sua vez, registra o fato assustador de que o ano passado marcou a primeira vez em muitos milhões de anos que as concentrações de CO2 na atmosfera passaram de 400 partes por milhão.
A isso tudo se acrescenta uma crise do sistema financeiro mundial por conta da dívida crescente e impagável de governos, empresas e pessoas que forçam a economia mundial a crescer a todo custo. Ou seja, para que se mantenha a crença de que a dívida será paga, não existe outra saída senão aumentar o PIB indefinidamente. Mas é isso exatamente que causa os problemas que tanto preocupam. Vale lembrar aqui o conselho de Albert Eistein (1879-1955) de que “Não podemos resolver nossos problemas com o mesmo pensamento que foi usado quando os criamos”.
Está na hora de aceitar o ensinamento da encíclica Laudato Si’ acerca da necessidade de “mudanças profundas” no nosso estilo de sociedade.
Clóvis Cavalcanti
Presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE); cloviscavalcanti.tao@gmail.com ** Nota: Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no Diario de Pernambuco

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